quinta-feira, 3 de junho de 2010

CHORINHO E COISA E TAL

No século XIX, o termo choro significava mais uma forma de tocar. Até então, não era visto como gênero musical. Somente mais tarde foi considerado como tal.

É fato ainda que sofreu a influência de ritmos originários da Europa como a valsa, a polca, a mazurca, o xote, a quadrilha e também o lundu africano.

Era tocado nos bailes da época e, embora essa denominação sugira uma atmosfera melancólica, a coisa nem sempre se dava dessa forma. Se observarmos com cuidado, nos deliciaremos com uma série de melodias alegres, de andamento rápido e improviso invejável.

Quer queiramos ou não, a absorção desses ritmos estrangeiros por parte de nossos músicos foi fundamental para a formação de nossa identidade musical.

O choro ou chorinho exige extremo domínio instrumental mesclando erudição e malandragem, conferindo-lhe certamente uma brasilidade sem igual. Os conjuntos de choro são chamados de regionais e os compositores recebem a denominação de chorões.

O nome de Joaquim Antônio da Silva Calado surge como criador do gênero, pois ao que parece, foi dele a ideia de se juntar ao som da flauta, um cavaquinho e dois violões, com improvisação sobre a melodia.

Em termos de estrutura, cabe ao cavaquinho a centralização do ritmo enquanto os violões sete cordas dão base ao conjunto. O pandeiro também adquire extrema importância como marcador de ritmo. As baixarias que, por definição, são as melodias feitas pelo violão, diferentes daquelas do elemento solista, constituem a marca criativa do gênero.

Há certa controvérsia quanto à origem do termo choro. Alguns especialistas afirmam que ele deriva da maneira chorosa ou melancólica de se tocar as músicas estrangeiras nos bailes do século XIX. Chamavam esse tipo de execução de música de fazer chorar. Outros afirmam que deriva do xoro, baile que reunia os escravos nas fazendas. Posteriormente, na cidade, o ch seria incorporado ao termo. Há ainda os que entendem que as baixarias foram responsáveis diretas, sugerindo atmosfera melancólica, para a criação do termo.

De qualquer forma, parece lícito supor que se trata de um gênero musical comprometido com a universalidade, no que se refere ao aspecto instrumental, pois o choro tem linguagem própria, capaz de ultrapassar as fronteiras regionais e nacionais. A controvérsia sugerida pelo termo é sinal de que não há possibilidade de um enquadramento autoritário de denominações.

O choro não tem a abrangência que tinha no passado. Falta-lhe o apoio da mídia, provavelmente pela beleza e profundidade de sua composição e, ainda, pelo fato de que houve, de uns tempos para cá, um decréscimo considerável no que diz respeito à audição de música instrumental. A quase extinção dos programas de auditório e a preponderância indiscutível da cultura televisiva visual devem ser levadas em conta também neste questionamento. Mesmo o choro cantado não encontra espaço na mídia, pois requer ouvido apurado, tanto na composição de andamento rápido, quanto naquelas de andamento mais lento.

Há pontos de resistência como rádios e casas de show que fazem questão de divulgar este gênero. Raramente se vê um programa de choro nas redes de televisão mais famosas. A música de massa, medíocre e ruim, domina o mercado e elimina qualquer possibilidade nesse sentido. Isso acontece não só com o choro, mas também com o samba de raiz, que ocupa cada vez menos espaço nos meios de comunicação. Nomes como Chiquinha Gonzaga, Waldir Azevedo, Ernesto Nazareth, Pixinguinha e Jacob do Bandolim nada significam para grande parte do público

A recepção por esse mesmo público, entendida aqui como resposta a um estímulo externo, e a desinformação em relação aos gêneros mencionados acima são, no mínimo, gritantes.

Não há, no Brasil, bailes nos quais se toca o chorinho para que os convivas dancem. Comparativamente, há pouquíssimas orquestras como as do passado, hoje em dia. Temos muito mais espectadores do que propriamente participantes que se entreguem de corpo e alma ao som brejeiro dos chorões.

O que nos dá algum alento é o fato da redescoberta do choro pelas novas gerações. Cada vez mais, verifica-se a presença de jovens nos eventos espalhados pela cidade, o que significa dizer que nem tudo está perdido.

Cabe destacar também o surgimento milagroso de regionais compostos por gente nova, sem vícios e com muita disposição e fibra, como o grupo Café Brasil.

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