quinta-feira, 21 de novembro de 2019

domingo, 3 de novembro de 2019

sábado, 2 de novembro de 2019

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

                                                                   BAHUNAI 
  
        
                               REVISTA DE LITERATURA DO POETA JOÃO AYRES.

                                        NÚMERO 2.




Sou João Ayres, poeta, contista,romancista, cantor e compositor de samba de raiz, jazz e blues. Comigo é preto no branco e nada mais tenho a dizer.
Publicados serão aqui textos que passarem pelo meu crivo, além dos meus evidentemente.

A revista tem o nome que tem pelo fato de ter o nome que tem.
Não tenho a mínima ideia acerca do motivo pelo qual escolhi o referido.
BAHUNAI, BAHUNAI, BAHUNAI.
    Saudações a todos.

             Eu mesmo.





Poemas de T.S.Eliot.


5- East Coker (Trecho – Parte II dos Quatro Quartetos)

I
Em meu princípio está meu fim. Umas após outras
As casas se levantam e tombam, desmoronam, são ampliadas,
Removidas, destruídas, restauradas, ou em seu lugar
Irrompe um campo aberto, uma usina ou um atalho.
Velhas pedras para novas construções, velhos lenhos para
novas chamas,
Velhas chamas em cinzas convertidas, e cinzas sobre a terra
semeadas,
Terra agora feita carne, pele e fezes,
Ossos de homens e bestas, trigais e folhas.
As casas vivem e morrem: há um tempo para construir
E um tempo para viver e conceber
E um tempo para o vento estilhaçar as trêmulas vidraças
E sacudir o lambril onde vagueia o rato silvestre
E sacudir as tapeçarias em farrapos tecidas com a silente
legenda.
Em meu princípio está meu fim. Agora a luz declina
Sobre o campo aberto, abandonado, a recôndita vereda
Cerrada pelos ramos, sombra na tarde,
Ali, onde te encolhes junto ao barranco enquanto passa um
caminhão,
E a recôndita vereda insiste
Rumo à aldeia, ao aquecimento elétrico
Hipnotizada. Na tépida neblina, a luz abafada
É absorvida, irrefratada, pela rocha grisalha.
As dálias dormem no silêncio vazio.
Aguarda a coruja prematura.
A este campo aberto
Se não vieres muito perto, se muito perto não vieres,
À meia-noite de verão, poderás ouvir a música
Da tíbia flauta e do tambor pequenino
E vê-los a dançar em derredor do fogo
Homem e mulher ajuntados
Bailando na dança que celebra o matrimônio,
Esse dino e com modo sacramento.
Dous e dous, necessária comunhão,
Uns aos outros enleados pelo braço ou pela mão,
Na dança que anuncia a concórdia. Girando e girando ao
redor do fogo
Saltando por entre as chamas, ou reunidos em círculos,
Rusticamente solenes ou em rústico alvoroço
Erguendo os pesados pés que rudes sapatos calçam
Pés de terra, pés de barro, suspensos em campestre alegria,
Alegria dos que há muito repousam sob a terra
Nutrindo o trigo. Mantendo o ritmo
Mantendo o ritmo em sua dança
Como em suas vidas nas estações da vida
O tempo das estações e das constelações
O tempo da ordenha e o tempo da colheita
O tempo da cópula entre homem e mulher
E o das bestas. Pés para cima, pés para baixo.
Comendo e bebendo. Bosta e morte.
Desponta a aurora, e um novo dia
Para o silêncio e o calor se apresta. O vento da aurora
Desliza e ondula no mar alto. Estou aqui,
Ou ali, ou mais além. Em meu princípio.

Sussurros de imortalidade
Webster, possesso pela morte,
via, detrás da pele, os crânios;
riam sem lábios, reclinando-se
sem tórax, seres subterrâneos.
Não olhos: bulbos de narciso
pasmavam de órbitas escuras!
Sabia: a mente envolve restos
mortais com luxos e luxúrias.
Donne, posso crer, também achava
que era ao sentido que cabia
pegar, render e penetrar;
perito em mais do que a empiria,
ciente da angústia da medula,
do espasmo do esqueleto, viu
que, no contato dado à carne,
nada se aplacava o osso febril.
* * *
Grishkin é bela: sublinhados,
seus olhos russos são enfáticos;
sem sutiã, seu busto amigo
promete júbilos pneumáticos.
O jaguar brasileiro, à espreita
do mico lépido, o avassala
com eflúvio sutil de gato;
Grishkin possui um quarto-e-sala;
O nédio jaguar brasileiro,
em sua sombra arbórea, não
destila odor forte e felino
como o de Grishkin num salão.
Mesmo abstrações rondam seu charme.
Entre ossos secos, todavia,
meus iguais, rastejando, aquecem
a nossa vã filosofia.
.IV – Morte por água
Flebas, o Fenício, morto há quinze dias,
Esqueceu o grito das gaivotas e o marulho das vagas
E os lucros e prejuízos.
………………………………Uma corrente submarina
Roeu-lhe os ossos em surdina. Enquanto subia e descia
Ele evocava as cenas de sua maturidade e juventude
Até que ao torvelinho sucumbiu.
………………………………Gentio ou judeu
Ó tu que o leme giras e avistas onde o vento se origina,
Considera a Flebas, que foi um dia alto e belo como tu.
Poemas de João ayres.
1 Eu não tenho nada)
 E sou como todo este vazio)
Que dilacera minha alma)
Para desvelar a insanidade.

Eu não tenho nada)
Sou como tudo que não possa ser como tal)
Inspirando e expirando de quando em vez)
Palavras escorregadias e flamejantes.


  I have nothing)
I´m like all this nothingness)
Which tears my soul apart)
To disclose insanity.

I have nothing)
I´m very much like whatever cannot be like that)
By breathing in and out every so often)
                               Slithering flaming words.


2   

É doloroso agir)
Como a sombra do vazio de alguém)
Pois que aquela alma não deve ser desvendada)
Antes que os demônios possam estender suas asas sangrentas.


É doloroso pairar sobre)
A supremacia do caos)
De onde tudo se origina)
Como as tais pedras com gosto de chuva fina.
  

2   It is painful to act like)
The shadow of someone else's emptiness)
  Since your soul is not to be disclosed)
                 Before evil spreads its bloody wings.

It is painful to hover above/
    The supremacy of chaos/
    From which all derives/
                   Like those stones that taste of falling raindrops.

3
Minha mente escura)
Distante e frágil
Andando por sobre o gelo fino)
Tão fria como qualquer horizonte tardio.

Meus olhos que agora se arrastam por um campo de batalha enlameado
Deleitando-se com a solidão de uma insanidade sem gosto;

Minha mente escura
                                 Distante e frágil

Angustiae Angustiae Angustiae.


 3   My dark mind/
   Despondent and fragile/
                Walking on thin ice/
                         As cold as any lost horizon.

 My eyes are now trudging through a muddy battlefield/
Feasting on the tasteless solitude of insanity;

My dark mind/despondent/fragile

             Angustiae Angustiae Angustiae.

Boneless Poems - Poemas Desossados -Edição Bilíngue.


Paulo de Carvalho.

TRECHO DA PROSA POÉTICA A INATINGÍVEL CURVA DA MIRAGEM

 [E todas as linhas de Teus passos arderão em verossimilhança

Olhe ao Teu entorno, Poeta! O que vês? Reparaste que na amplitude de Tua visão tudo que se percebe são os luzires serpenteantes emanados das escaldantes areias? Surgem-Te como opacos cansaços em najas danças, pois serpentes de sedução é o que são. E não há em todo Teu horizonte uma asa de sombra por mais voos que sejam Teus pássaros, pois abaixo do sol — exílio de Tuas tantas horas — a eternidade nada mais é que a extensão infindável das areias e as remotas probabilidades tombadas por esperanças para o além das dunas.
Repara, Poeta, que toda a metafísica não vai além do que se espelha ao chão. E o que se espraia ao solo, Poeta, nada mais é que o contorcionismo de Tua sombra nas ondulações do que aos Teus pés se entroniza — Tuas areias!
[E todo Sol Te será pelo abrasivo de Tuas lidas em céus que pisas

Ah, meu caro Poeta! Saibas que de todas as fontes de luzes que já bebeste, nenhuma Te será por mais alimento que os escuros advindos dos ventos – o silvo áspero dos simuns; nas tantas sendas e ao cabo de Tuas searas... Teus lagares.  Águas férteis das mais profundas solidões fluirão como versos em linhas d’espera.

[Onde todas as Tuas convicções deitar-se-ão fatigadas

Estrangeiro nos escuros de Tuas noites anseias candeias...  Tanges vazios. Desertos são ermos sem cantos suas lajes intangíveis — apenas a imensidão d’um azul côncavo tingido de fogo estendido sobre eras... e eras... e eras... À exaustão da criação.

[Abjura dos verbos, Poeta! Advérbios de obediência são 0

Por negação de vontades — esconjuro do SIM, transpuseram Tuas linhas tartamudas, sílabas em sílabas... Ciladas caiadas contidas nas quebras dos versos. Inversos e avessos expressos em tautologias simétricas — reflexivas? — como as ensejadas sombras das palmeiras em cálices d’oásis.

[Onde todo pássaro trina teus cantos em encanto de fuga

Deita-Te Poeta, nas brumas de Tuas fomes e frios e frestas pelos restos dos instantes onde toda realidade se entrega e se estraga entre reflexos ardentes no grito inominável d’areias... Lá, tão somente lá, soerguer-se-á – dos incomensuráveis exílios -, Teu advir.

[E todo espanto das lendas despertará como espelhos lúdicos




Sobre noites d’areias

[Das horas d’insônias resplandecerão 
.




TRECHO DE UM CONTO DO LIVRO -HISTÓRIAS PARA NENHUM BOI DORMIR DE JOÃO AYRES.

 19-ONISCIÊNCIA NUBLADA

 Sim, eu começo o dia sabendo que estou onde estou, melhor dizendo, achando que estou onde estou ou que vou para onde vou no verbo ir,
Pelo fato de que quem, enquanto sujeito, vai sempre no verbo ir ao cemitério, à padaria, craseado à praia nesta estranha mistura que envolve artigos e preposições e coisas do tipo.
Sou este narrador que se dilui nestas palavras que devassam este eu deslizante que perde o seu nome quando se ilude achando que tem absoluto controle sobre o que é dito neste agora,
Nublado que está para dentro destes olhos que assim como uma consciência alterada caminham na direção maior da clareira que se abre quando percebem a aproximação do espaço tridimensional em largura e comprimento e altura.
Sim. eu começo o dia emparedado em verbos como comer alguma coisa, tomar banho e ter que trabalhar. Esta certeza, esta onisciência mais do que nublada no fundo de todo e qualquer quadro expressionista em ele achava que todos os seus colegas de trabalho se adaptariam mais aos tons lúgubres como roxo ou lilás bem escuros como as tais uvas pisadas para se transformar em vinho de ótima qualidade em algum lugar ao sul de qualquer vila perdida nos confins dos confins e que assim seja.


HISTÓRIA EM QUADRINHOS SEM QUADROS. PERSONAGENS ENVOLVIDOS: TRAVESSÃO, VÍRGULAS E PONTOS EM GERAL.


É travessão, as coisas estão indo qualificáveis em de mal a pior.

Certamente que sim, ainda mais agora que você insiste em fechar frases curtas, ponto.

Sinal dos tempos, os períodos cada vez mais curtos, pois esta lógica doentia não permite mais tantas divagações....

- Faço questão de entrar agora, eu como travessão, enredado neste aposto, faço questão de forçar um alongamento desta sentença para ir na direção contrária a este fluxo de pensamento rasteiro, não é mesmo, reticências...

Sim, atada que estou ao que se entende por  incompletude, eu que agora exalto estas vírgulas que apontam na direção de uma higienização mental, elas que sempre sugerem, quer queiramos ou não, um desaceleramento, elas as vírgulas que juntamente comigo ajudam a mente a se aquietar reencontrando assim o silêncio ancestral, aquele silêncio de origem, de um brotar de pensamentos enraizados no entorno e aqui vou eu, eu, reticências...

-Fulano morreu ontem.

Ponto, você parece não ter sentimentos...

Não se trata disso, não é bem assim reticências e vírgula, mantenho minha alma protegida graças à possibilidade deste frio relato deste sujeito de plástico que prefere estar anestesiado para se preservar e não sofrer...




Poemas de Kurt Helmut que assina com o pseudônimo de Truck Tumleh.




VAZIO

No silêncio do pátio,
ao balanço das folhas,
entre as sombras das árvores;
o incômodo de um grito 
não dito,
gera em mim
um certo desconforto.

Na parede lateral 
mau pintada,
de um prédio sem sentido, 
o emboço solto
expõe um tijolo
que sangra areia...

Verifico tudo
da janela do ônibus,
que corta a história
a cem quilômetros por hora, 
avançando sinais.

Perdido como se fosse 
uma bala sem dono,
atinjo, em cheio,
o vazio do nada...
Pois, na ápice
de uma troca de marcha, 
ou de uma troca de tiro,
finalmente:
chego ao canto de uma rua...
Chego ao canto de um pássaro.
Truck Tumleh
www.kurt.com.br




DIVAGAÇÃO
Confesso: Atravessei por baixo

da passarela do momento
e por um instante,
fui atropelado pelo tempo.

Braços, pernas, olhos,

lábios, nariz e as orelhas,
voaram para o outro
lado da pista;
enquanto o coração
estava preso ao fio
da razão.


O socorro não chegou

e ninguém
a não ser eu mesmo,
pôde tocar
nos meus próprios destroços.

Sei que estou morrendo

mais uma vez,
por um sentimento,
onde a infinitude
é um fato concreto.
Truck Tumleh









terça-feira, 16 de julho de 2019

segunda-feira, 22 de abril de 2019

sexta-feira, 1 de março de 2019

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019



BAHUNAI.

REVISTA DE LITERATURA.
JOÃO AYRES.


Sou João Ayres, poeta, contista,romancista, cantor e compositor de samba de raiz, jazz e blues. Comigo é preto no branco e nada mais tenho a dizer.
Publicados serão aqui textos que passarem pelo meu crivo, além dos meus evidentemente.

A revista tem o nome que tem pelo fato de ter o nome que tem.
Não tenho a mínima ideia acerca do motivo pelo qual escolhi o referido.
BAHUNAI, BAHUNAI, BAHUNAI.
    Saudações a todos.
             Eu mesmo.


Poemas de João Ayres:

h) eu engulo manhãs começando)
com letra minúscula este poema desgraçado)
vertido em gotas de angústia e mais angústia e mais angústia)
quando atiro pérolas aos porcos de ocasião.

Eu vejo agora o que vejo)
Quando me contraio inserido no substantivo caixote)
Apodrecido em fruta de coloração estranha)
Aprisionado no estômago de qualquer assassino indiferente.

98
Parênteses foram feitos para)
Não terem razão de)
Ele foi à festa,mas em função do, diga-se de passagem(----)
Não pôde com acento diferencial ser condecorado.

() Foram agora espremidos desta forma)
Por motivo definitivamente ignorado)
Em compre isto ou aquilo no estabelecimento mais(p-------)
E morra mais uma vez de mãos atadas.


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PROSA POÉTICA TORPE E DESNATURADA.

Quero no verbo querer comer alguma coisa E já passa-das---E afinal não há nada para se comer nesta ca----) e assim vou andando de um lado para o outro craseado em -----procura de algo que possa ser literalmente tragado passando pelo meu esôfago e se alojando por algum tempo em meu estômago e encontrando no verbo encontrar o tal intestino neste algo que será eliminado algum tempo depois,

E eu que sei que tenho uma velha intimidade com aquela latrina que fica sem tampo ou literalmente de boca aberta aguardando as tais fezes daquele strogonoff de primeira ingerido no tal hotel e daquela macarronada que não é e nunca foi esposa do macarronado com molho de tomate importado e  mais aquele queijo quente que me conduz ao purgatório----- em quer beber um pouco mais e a tal urina que se mistura à tal água daquela latrina e a tal descarga ou flush no correspondente inglês que manda tudo para o esgoto pressionada pelo dedo de.


IMAGEM

ORIGEM DA PALAVRA IMAGEM

Imagem que deriva do latim imago e que significa a representação visual de uma pessoa ou de um objeto. Em grego antigo corresponde ao termo eidos, raiz etimológica do termo idea ou eidea, cujo conceito foi desenvolvido por Platão.

Catacumbas



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TRANSFORMAÇÃO, MINDSHIFT.

São tantas horas nesta casa e estou sentando no sofá. Ligo o abajur e me ponho-me a ler.
Simples assim?

Não, trata-se de um ato fundamentalmente revolucionário indo contra este estado de ignorância que assola o mundo.

Não nego mudanças e entendo o fato de que somos movidos pela virtualidade das imagens, parece ser este o futuro.

O que me causa surpresa é o fato de que as pessoas não tenham consciência de que a velocidade dessa torrente de informações possa  obliterar sobremaneira o funcionamento do cérebro.

O ato de sentar-se  em silêncio, sem a parafernália tecnológica que leva à constante distração, representa a possibilidade de desaceleração da mente e de um encontrar-se consigo mesmo através da leitura que por sua vez favorece à criação de imagens mentais.

Cada vez mais as tais imagens virtuais farão parte de nossas vidas e temos que ter discernimento em relação à exposição às mesmas para que não nos tornemos autômatos sem capacidade de escolha.

           Ler é o o melhor caminho

O poeta sugere:


  • Nelson Rodrigues – Romance Casamento
  • Luis Alfredo Garcia-Roza – O silêncio da chuva
  • A inatingível curva da Miragem – Paulo de Carvalho
  • Desato-Viviane Mosé
  • Conspiração de Nuvens – Lygia Fagundes Telles
  • Enterro do Lobo Branco – Márcia Barbieri
  • Ménage à Trois – Daniel Guaccaluz
  • Linho de Urtigas – Isabela Fernandes
  • Lynn Margulis – O Planeta Simbiótico
  • Gaia – Uma teoria do conhecimento
  • Do Exercício de Viver – Goiamério Felício
  • Eu e outras poesias – Augusto dos Anjos
  • George Iso – IRONIA Poemas relatos
  • Aristófanes – As Nuvens
  • Aristófanes – As Aves.
HISTÓRIA EM QUADRINHOS SEM QUADROS.

PERSONAGENS ENVOLVIDOS.
TRAVESSÃO
VÍRGULA
PONTOS EM GERAL.

Capítulo 1000
Olá travessão, tudo bem?
Mais ou menos, estou farto de ter que começar sempre algum diálogo. Queria ser um ponto final em tudo.

Ora, não pense desta forma, você está sempre começando alguma fala, não há tanta rotina assim em sua vida.
Certamente que sim, mas prefiro colocar um ponto aqui.

Ora travessão, veja que tudo tem que ser como tem que ser.
Olhe ponto, você termina as coisas e eu começo tudo de novo.
Não, na verdade nós começamos tudo e terminamos tudo e começamos e terminamos e estamos condenados a ser assim e acabou, por favor conforme-se.

Mas...é que se eu começasse uma sentença qualquer com um ponto de exclamação ou de interrogação, o que adviria daí, indago.
Bem, minha sobrevivência ficaria definitivamente comprometida, disse o ponto.

ROBERTO PIVA - POEMA PORRADA
Eu estou farto de muita coisa
não me transformarei em subúrbio
não serei uma válvula sonora
não serei paz
eu quero a destruição de tudo que é frágil:
    cristãos fábricas palácios
    juízes patrões e operários
uma noite destruída cobre os dois sexos
minha alma sapateia feito louca
um tiro de máuser atravessa o tímpano de
    duas centopeias
o universo é cuspido pelo cu sangrento
    de um Deus-Cadela
as vísceras se comovem
eu preciso dissipar o encanto do meu velho
    esqueleto
eu preciso esquecer que existo
mariposas perfuram o céu de cimento
eu me entrincheiro no Arco-Íris
Ah voltar de novo à janela
    perder o olhar nos telhados como
    se fossem o Universo
o girassol de Oscar Wilde
entardece sobre os tetos
eu preciso partir um dia para muito longe
o mundo exterior tem pressa demais para mim
São Paulo e a Rússia não podem parar
quando eu ia ao colégio Deus tapava os ouvidos para mim?
a morte olha-me da parede pelos olhos apodrecidos
    de Modigliani
eu gostaria de incendiar os pentelhos de Modigliani
minha alma louca aponta para a Lua
vi os professores e seus cálculos discretos ocupando
     o mundo do espírito
vi criancinhas vomitando nos radiadores
vi canetas dementes hortas tampas de privada
abro os olhos as nuvens tornam-se mais duras
trago o mundo na orelha como um brinco imenso

a loucura é um espelho na manhã de pássaros sem Fôlego.

Tânatos - Paulo de Carvalho

Perene!

Cortesã das noites e mantos. Cantos e sopros brilham as eternidades; irresistíveis negros de teus véus. Senhora dos céus e fios — finos e tênues silêncios entre as cores e húmus.

Perene!

Indelével nas danças – harmonia ao lúdico dos jogos. Faceira, tramas em compassos teus ritos solenes. Dama eterna dos joios e trigos e mostos ao gozo dos pastos... logos & cálices.

Perene!

Inconteste das lidas cruzadas – soberana nas fainas, revigoras as chamas nas hastes extintas. Refulgente e bela ao coro-sopro dos Verbos.

Perene!

Indissoluta és nos lumes e gumes — luzente nos breus. Irônica e plena à sedução dos lábios. Calores incisos em ranhuras nas pedras... beijas os sopros à resta do frio.
Perene!

Incólume dançarina entre pêndulos e areias. Ápice do não nas ofertas, consagram-te — enigmas perpetuados à sina; morrer-te quereres.

Perene!
(Kyrie, Biblioteca 24x7, São Paulo, 2009)

PRÓXIMA EDIÇÃO - MARÇO -2019