sábado, 30 de julho de 2011

POEMA

1 Endurecido agonizo em silêncio/
como a tal pedra que não rolará ladeira abaixo/
arranco das palavras o que os mortos possuem/
por isso este gosto de nada na boca tarde da noite.

 Vertiginoso proclamo o fim/
destes dias mornos em companhia dos ascetas/
pois que estou para as nuvens que sangram no céu qualquer/
ou para as facas que carregam a insanidade dos tiranos.

sábado, 4 de junho de 2011

A ARTE DE SE TORNAR NINGUÉM

1 acordo ao não ser quase nada/
acordo igualmente  em pouco ser/
acordo ao abrir e fechar portas/
ou ao rosnar no interior de qualquer alma febril.

acordo ao me  tornar fumaça/
 acordo ao fechar os olhos para o tempo/
acordo ao me tornar ninguém/
      rastejando no frio das sarjetas.

2 Não tenho nome/
minha hora é qualquer uma/
minha camisa rasgada de véspera/
minha alma crivada de balas assassinas.

 Não tenho nome/
no pronome indefinido ninguém/
meu rosto deformado no incêndio/
nas chamas que devoram minhas entranhas homicidas.

3 Ninguém em mim escuta o que dizem os outros/
entro e saio e ninguém literalmente me segue/
devo morrer em silêncio nestas ondas que batem sem alarde/
açoitado de quando em vez  pelo substantivo lugar.

Ninguém em mim escuta o que dizem os outros/
quando as palavras trepidam e o instante borbulha/
assim quando minha angústia é  maior na infinidade da aurora/
deste sol que brilha na escuridão do amanhã.

sábado, 5 de março de 2011

RECEITUÁRIOS PARA VIVOS E MORTOS

Acordo em presente do indicativo como se nunca houvesse sido coisa alguma. Olho para frente e para os lados para poder ver o que não existe.
Este algo anterior ao que se denomina percepção, este algo que pode ser melhor sorvido no adjetivo embaçado.
Este algo anterior ao adjetivo anterior, este algo talvez mais antigo do que o próprio mundo.
Agulhas impiedosas denigrem a sintaxe em quem fala em mim. Procuro palavras distantes na terra do nunca.
Há decerto alguma ordem necessária neste caos que vomita seus restos à minha frente.
É quando o eu pisa em frutas frescas por desejo de vingança, é quando as entranhas se contorcem em movimentos infinitos.
Não há dor nem muito menos prazer nesta mistura que serpenteia estas manhãs com gosto de nada.
Nada além disto mesmo que nem é o que é e nem o que poderia ser. Nada além do rigor de toda e qualquer grave enfermidade que se revele no túnel escuro do além.