sábado, 4 de junho de 2011

A ARTE DE SE TORNAR NINGUÉM

1 acordo ao não ser quase nada/
acordo igualmente  em pouco ser/
acordo ao abrir e fechar portas/
ou ao rosnar no interior de qualquer alma febril.

acordo ao me  tornar fumaça/
 acordo ao fechar os olhos para o tempo/
acordo ao me tornar ninguém/
      rastejando no frio das sarjetas.

2 Não tenho nome/
minha hora é qualquer uma/
minha camisa rasgada de véspera/
minha alma crivada de balas assassinas.

 Não tenho nome/
no pronome indefinido ninguém/
meu rosto deformado no incêndio/
nas chamas que devoram minhas entranhas homicidas.

3 Ninguém em mim escuta o que dizem os outros/
entro e saio e ninguém literalmente me segue/
devo morrer em silêncio nestas ondas que batem sem alarde/
açoitado de quando em vez  pelo substantivo lugar.

Ninguém em mim escuta o que dizem os outros/
quando as palavras trepidam e o instante borbulha/
assim quando minha angústia é  maior na infinidade da aurora/
deste sol que brilha na escuridão do amanhã.

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