sexta-feira, 10 de setembro de 2010

POEMAS DA ALMA INÚTIL

1 COMER faz mal/
beber até cair infinitivo/
melhor sufocar a palavra travesseiro/
ou estrangular este tédio pela manhã.

Morrer talvez seja o caminho/
para o mundo em nunca mais saiu/
 Quebrou a perna num acidente de automóvel/
e na verdade nunca soube que andava.

2 Há verbos que dizem/
que o tempo já acabou/
por isso não há registros nem pistas/
Quando a chuva desmembra a quietude.

Há verbos que dizem/
que as maçãs estão podres/
e por isso revidam os golpes/
      ao rosnar no ouvido dos suicidas.

3 Não sei o que faço/
   quando viro a esquina/
e quando o sinal de trânsito/
jamais sorri para mim.

É fácil cruzar/
     a rua do mal/
fumando o substantivo cigarro/
  ou roendo o substantivo unha.


Não sei o que faço/
quando viro a esquina/
concreto ou abstrato/
  em carro ou angústia.

É fácil manter/
este vômito na garganta/
enquanto a hora borbulha/
ensopada como um defunto.