domingo, 27 de junho de 2010

MANHÃS SEM VOLTA

1 Parece que o tempo/
está a desnudar este tédio/
que é como dizer/
que as rugas rimam com a palavra rosto/
perdido e devidamente machucado/
pelos anos de amargura e dor.

Parece que o tempo/
está a se enroscar em espirais de fogo/
para arder como o nada que assola a alma/
lentamente corroída pelos ventos de ocasião.


2 Uma casa qualquer/
no canto da palavra lugar/
destruída na palavra pesadelo/
em frio intermitente nos pés.

Uma casa qualquer/
em portas e janelas abertas/
cuspindo o sol que se agiganta/
na pachorra de cães que farejam o além.

3 Uma manhã sem volta/
em ninguém esteve ali/
e mais a mesa e a cadeira/
e mais o copo e a garrafa/
vazia e sem destino.

Uma manhã sem volta/
com cheiro de morte e no mais/
os cadáveres que ali estiveram/
a mastigar o tédio infinito/
na lama de corpo presente.


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