domingo, 27 de junho de 2010
MANHÃS SEM VOLTA
domingo, 13 de junho de 2010
QUESTÃO METAFÍSICA - INICIANDO A PROBLEMÁTICA
1 Em que pesem todas as possíveis diferenciações entre poesia e letra de música, vamos aqui tentar desmistificar este tão abordado tópico nas rodas de intelectuais da cidade.
Confesso ainda que estou cansado destes esquemas teóricos que se arrastam durante anos e que conseguem, cabe algum crédito a este tipo de postura, arregimentar vários seguidores.
Parece que a distinção entre letra de música e poesia diz respeito ao fato de que a composição não pode ou não deve existir sem a melodia. Elas caminham lado a lado e, em geral, quando é lida sem a mesma, perde muito em vigor ou intensidade.
Ouço ainda argumentações relacionadas a uma maior sofisticação na estrutura da poesia, a uma maior elaboração em nível de conteúdo e técnicas de versificação e ritmo. Há ainda observações calcadas no fato de que os poemas em geral são mais longos envolvendo um enredo ou tema mais intrincado e coisa e tal....
Devo dizer que até aí morreu o bode. Ainda não fui surpreendido por nada ou por ninguém neste sentido.
Ao mesmo tempo, acho lícito acrescentar que experimento sensações diferentes quando sou arrebatado por ambas....
2 O termo poesia aponta para um fazer. Diz na sua raiz de uma criação, refere-se portanto ao ato de criar.
Lemos DRUMMOND, SIMONE BRANTES, SYLVIA PLATH, JOÃO DE ABREU, CYANA LEAHY, CLIMÉRIO FERREIRA, FERREIRA GOULART, MANOEL DE BARROS, NELSON MENDES. PAULO ANDRÉ, LELÊ FERNANDES e tantos outros poetas maravilhosos...
Ouvimos PAULINHO DA VIOLA, NELSO SARGENTO, NELSON CAVAQUINHO, ISMAEL SILVA, PAULO DA PORTELA, CARLOS CACHAÇA, ATAULFO ALVES E DELCIO CARVALHO...
Lemos e ouvimos e experimentamos um prazer sem igual quando recitamos os poemas ou as letras de música, o prazer oral a que se refere Roland Barthes.
Lemos e ouvimos poesia e letras de música em saraus e encontros por toda a cidade.
Lemos e ouvimos e cantamos em versos esta vida que nos surpreende a cada instante.
Vejamos então esta letra de PAULINHO DA VIOLA:
PARA UM AMOR NO RECIFE
a razão por que mando um sorriso
e não corro
é que andei levando a vida
quase morto
quero fechar a ferida
quero estancar o sangue
e sepultar bem longe
o que restou da camisa
colorida que cobria
minha dor
meu amor eu não me esqueço
não se esqueça por favor
que voltarei depressa
tão logo a noite acabe
tão logo este tempo passe
para abraçar você;
Vejamos esta letra de DELCIO CARVALHO:
A LUA E O CONHAQUE
Pra que fugir
Se as lembranças não vão te largar
O remorso vai te perseguir
E te afligir até cansar
Pra que chorar
Se no mundo não há mais nos dois
Nossa festa acabou
Nosso céu desabou
Sei que estás sentindo
Desprazer na solidão
Sombras na parede
Folhas mortas pelo chão
A noite pesada sem ter pressa de passar
A lua e o conhaque misturando-se no ar
Ah, se tu soubesses quanta coisa se perdeu
O quanto esbanjamos pela vida tu e eu
Melhor é esperar
O sol despontar
Com ele achar um jeito de sorrir e de cantar;
Que tal amigos?
Sem melodia já são lindas e com melodia então nem se fala.....
A sensação que experimento quando sou tomado por estas composições é maravilhosa. Ultrapassa estas distinções menores, está liberta destes grilhões teóricos que imobilizam as manifestações da alma.
Lendo e ouvindo as referidas habito diferentes lugares decerto, mas afirmo que estes lugares estão muito mais próximos de um despojamento do que das esquálidas racionalizações acima mencionadas.
Estão para além, estão literalmente meta.
quinta-feira, 3 de junho de 2010
POEMAS DE SANGUE E DOR II
TRECHO DE MONÓLOGO DO DESACERTO DE JOÃO AYRES
CHORINHO E COISA E TAL
No século XIX, o termo choro significava mais uma forma de tocar. Até então, não era visto como gênero musical. Somente mais tarde foi considerado como tal.
É fato ainda que sofreu a influência de ritmos originários da Europa como a valsa, a polca, a mazurca, o xote, a quadrilha e também o lundu africano.
Era tocado nos bailes da época e, embora essa denominação sugira uma atmosfera melancólica, a coisa nem sempre se dava dessa forma. Se observarmos com cuidado, nos deliciaremos com uma série de melodias alegres, de andamento rápido e improviso invejável.
Quer queiramos ou não, a absorção desses ritmos estrangeiros por parte de nossos músicos foi fundamental para a formação de nossa identidade musical.
O choro ou chorinho exige extremo domínio instrumental mesclando erudição e malandragem, conferindo-lhe certamente uma brasilidade sem igual. Os conjuntos de choro são chamados de regionais e os compositores recebem a denominação de chorões.
O nome de Joaquim Antônio da Silva Calado surge como criador do gênero, pois ao que parece, foi dele a ideia de se juntar ao som da flauta, um cavaquinho e dois violões, com improvisação sobre a melodia.
Em termos de estrutura, cabe ao cavaquinho a centralização do ritmo enquanto os violões sete cordas dão base ao conjunto. O pandeiro também adquire extrema importância como marcador de ritmo. As baixarias que, por definição, são as melodias feitas pelo violão, diferentes daquelas do elemento solista, constituem a marca criativa do gênero.
Há certa controvérsia quanto à origem do termo choro. Alguns especialistas afirmam que ele deriva da maneira chorosa ou melancólica de se tocar as músicas estrangeiras nos bailes do século XIX. Chamavam esse tipo de execução de música de fazer chorar. Outros afirmam que deriva do xoro, baile que reunia os escravos nas fazendas. Posteriormente, na cidade, o ch seria incorporado ao termo. Há ainda os que entendem que as baixarias foram responsáveis diretas, sugerindo atmosfera melancólica, para a criação do termo.
De qualquer forma, parece lícito supor que se trata de um gênero musical comprometido com a universalidade, no que se refere ao aspecto instrumental, pois o choro tem linguagem própria, capaz de ultrapassar as fronteiras regionais e nacionais. A controvérsia sugerida pelo termo é sinal de que não há possibilidade de um enquadramento autoritário de denominações.
O choro não tem a abrangência que tinha no passado. Falta-lhe o apoio da mídia, provavelmente pela beleza e profundidade de sua composição e, ainda, pelo fato de que houve, de uns tempos para cá, um decréscimo considerável no que diz respeito à audição de música instrumental. A quase extinção dos programas de auditório e a preponderância indiscutível da cultura televisiva visual devem ser levadas em conta também neste questionamento. Mesmo o choro cantado não encontra espaço na mídia, pois requer ouvido apurado, tanto na composição de andamento rápido, quanto naquelas de andamento mais lento.
Há pontos de resistência como rádios e casas de show que fazem questão de divulgar este gênero. Raramente se vê um programa de choro nas redes de televisão mais famosas. A música de massa, medíocre e ruim, domina o mercado e elimina qualquer possibilidade nesse sentido. Isso acontece não só com o choro, mas também com o samba de raiz, que ocupa cada vez menos espaço nos meios de comunicação. Nomes como Chiquinha Gonzaga, Waldir Azevedo, Ernesto Nazareth, Pixinguinha e Jacob do Bandolim nada significam para grande parte do público
A recepção por esse mesmo público, entendida aqui como resposta a um estímulo externo, e a desinformação em relação aos gêneros mencionados acima são, no mínimo, gritantes.
Não há, no Brasil, bailes nos quais se toca o chorinho para que os convivas dancem. Comparativamente, há pouquíssimas orquestras como as do passado, hoje em dia. Temos muito mais espectadores do que propriamente participantes que se entreguem de corpo e alma ao som brejeiro dos chorões.
O que nos dá algum alento é o fato da redescoberta do choro pelas novas gerações. Cada vez mais, verifica-se a presença de jovens nos eventos espalhados pela cidade, o que significa dizer que nem tudo está perdido.
Cabe destacar também o surgimento milagroso de regionais compostos por gente nova, sem vícios e com muita disposição e fibra, como o grupo Café Brasil.