o corpo envelhecido e lento não pode nunca fazer o que quer.
não pode pular muros ou amar de forma selvagem a mulher que está ao seu lado.
pode apenas recriar o que já foi, deste ou daquele jeito, mexendo de um lado a outro como se já não fosse nunca o que fosse.
-é assim que ele levanta da cama e caminha na direção do tal banheiro e lava o rosto e escova os dentes com a tal escova, a insuportável escova que machuca a sua boca com gosto de nada.
-é assim que ele urina e defeca o que resta de sua existência macerada pela insuportável rotina.
- sabe-se ainda que ele não gosta de ser o que parece ser quando se sente obrigado a enfrentar o seu reflexo no espelho rachado no interior de sua intimidade menor.
sua alma triste consegue enxergar o além destes dias passados em companhia deste nada.
ele não quer morrer assim, não quer ir embora deste jeito. ele e o revólver ou pistola. frente a frente e ao lado de sua esposa ou cônjuge que se recusa a lhe dar a mínima atenção.
ele diz que ela precisa ouvir o que ele tem a dizer antes de ir embora. ele diz que ela sempre foi indiferente à sua dor, a seu desespero.
-ele primeiro atira na perna, na sua perna já tão gasta pelos tantos anos andando e suando pelas ruas do centro da cidade. jorra o sangue e ela agora o olha e não demonstra emoção alguma.
- ela pede para que ele atire na cabeça, mas que vá para o quarto e que seja o mais discreto possível, pois afinal sua mãe e seus convidados virão para o jantar.
-ele primeiro atira na perna, na sua perna já tão gasta pelos tantos anos andando e suando pelas ruas do centro da cidade. jorra o sangue e ela agora o olha e não demonstra emoção alguma.
- ela pede para que ele atire na cabeça, mas que vá para o quarto e que seja o mais discreto possível, pois afinal sua mãe e seus convidados virão para o jantar.
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