domingo, 30 de agosto de 2009

RESTOS E PALAVRAS

1
Comprei um pedaço/
de qualquer coisa-pedaço/
e rasguei com força e comi feito um animal/
os restos dos restos dos restos.

Comprei palavras/
no substantivo cemitério/
e separei lentamente as sílabas/
do substantivo torpor.

2

Minguante a lua/
sem nada no bolso/
quem se ausenta em mim/
tem cheiro de galho seco.

Reescrevo a vida/
com o que resta deste vinho/
espremido como este sempre/
que agora amassa papéis avulsos.

3
Tremo em pensar/
que minha hora já chegou/
e acho que ainda estou aqui/
por falta do que fazer.

Já tirei a minha roupa/
e vendi minha alma ao diabo/
Quando encontrei com o profeta/
Que trazia em seus olhos a catástrofe.


4 Tristeza de fogo/
de coisas que caem/
de restos de comida/
no prato de nada.

Desejo absurdo/
de comprar pão tarde da noite/
ou de engolir um tablete de manteiga/
para escorregar como a hora.

Tristeza de sempre/
maldita e silente/
nas nuvens cinzentas/
que transpiram sangue.

Desejo de morte/
de morte e mais nada/
tristeza de folhas/
que dão as costas para o vento.



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