sexta-feira, 23 de novembro de 2012

1 Um canto para enfiar a cabeça/
um canto qualquer para enfiar a mente/
um canto para esquecer o rosto/
um canto qualquer para lavar a invisibilidade das horas.

   Uma sala vazia e um homem estirado no chão/
vivo ou morto sem importância alguma na cena possível/
o corpo jogado na vala ou na vastidão dos cemitérios/
  um canto em mais um corpo
                      sem tempo
                                   sem nada.


2  Azia matinal e o café quente/
sempre à mesma hora como se tudo fosse possível/
como se a mesa fosse o que fosse/
e a cadeira insistisse em não mais sair do substantivo lugar.

Azia matinal e o café quente/
e o adjetivo quente a assolar a garganta/
e no mais o cansaço insano de quem apenas vomita/
seus restos mortais esbranquiçados pelo mal.


3 Uma serpente que se arrasta/
dentro de qualquer advérbio de lugar/
esverdeada em água rasa/
          ou em dente afiado/
uma serpente que se arrasta no abandono do verbo seguir.

Uma serpente que se arrasta em lentamente/
como se o modus operandi fosse pior do que o substantivo cirurgião/
que agora abre o estômago do substantivo paciente/
que tosse o seu fim como quem fuma o último cigarro.

4  Onde e como/
pergunto em indagar/
qual em pronome interrogativo/
quem em quem fez o que fez?

Onde diz das origens/
quando o quando provém do substantivo lugar/
impessoal é o tempo quando o próprio se desconhece/
em ir e ir em ir em alguém esteve ali.

 

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