sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

POEMAS

1 Sem quase nada/
habito as profundezas/
quando em mim tudo desfalece/
no substantivo escuridão.

O frio e o tédio/
sorvem lentamente o substantivo chá/
e assim reencontro minha matéria de nada/
nas horas que se arrastam nos calabouços.

2 Dois mortos que não conversavam/
olhavam um para o outro/
dois mortos que são o que parecem ser/
dois mortos estirados no substantivo calçada.

Concretos e inexpugnáveis os dois mortos/
que tinham os cabelos negros e o olhar rútilo/
dois mortos que são o que parecem ser/
um pedaço de qualquer coisa jogada na lata de lixo.

3 Um pássaro que agoniza/
no advérbio lentamente/
é duro mastigar o alimento em  frente ao mesmo/
minutos antes do fim do mundo..

Um pássaro que agoniza/
no advérbio lentamente/
  enquanto o universo se contorce embevecido/
  ao engolir as entranhas deste nada.

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