domingo, 21 de agosto de 2016

POEMAS CORROMPIDOS DE VÉSPERA

JOÃO AYRES

2 Então tudo desvanece
ao som inaudível do silêncio
em doses letais de qualquer conhaque benfazejo
uma ou duas horas após o jantar.


São flores mortas
no interior do substantivo defunto
vicejando no abandono de toda e qualquer vala
habitada por demônios sem cor.


1 uma história sem dono
corre lado a lado com o substantivo cão
latindo ladeira abaixo
na chuva que devassa as vísceras dos loucos.

basta ranger como as correntes da alma
sem nascimento ou morte em elas sempre foram
no lúgubre espaço das celas frias
batendo a cabeça contra a grade.


3 sou desrazoável e insano.
escorrem em mim coisas turvas e circenses.

estou gota de qualquer líquido ingerido por descuido
habito agora o estômago de um homem assassinado à queima-roupa.

minha alma regurgita
o descaso da hora quando faz as vezes dos mortos.

sou desrazoável e insano.
escorre em mim o abandono de ruas vazias.