1
Pelo buraco/
da palavra buraco/
desencontro as cores/
do adjetivo mortal.
É assim como uma fenda/
que se abre na palavra rocha/
entregue ao silêncio da hora/
sem medidas na escuridão em abismo.
2 Um homem menor/
escreveu num pedaço de papel/
o que restava de sua alma/
e vomitou contente.
Comeu um pouco mais/
em arroz e feijão e bife e salada/
e vomitou novamente/
sua existência em acordar e comer e dormir.
Um homem menor/
resgatou sua verve de nada/
ao estourar os miolos/
bem em frente ao substantivo cemitério.
Um homem menor/
esqueceu-se de vez de seu nome próprio/
ao apodrecer resoluto/
no ventre da palavra além.
3 Os olhos do peixe esbugalhados/
e a memória que brotou da água/
quando tudo assim escorria/
como um pensamento sem paragem.
Os olhos do peixe esbugalhados/
quando a terra e água eram quase um só/
pernas e braços e guelras e caudas/
entre o fosso e o abismo respirando incertezas.
4 Sem nada na mente/
vazio como um copo/
copo de vinho derramado/
no substantivo tapete.
Mãe estirada no sofá/
e o pai que agoniza em silêncio/
quando a alma passa a ser o purgatório/
morder/
rasgar/
ruir.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
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