domingo, 6 de setembro de 2009

POEMAS DA CRUELDADE E DESTEMPERO

1 Digo que a porta/
está aberta ou fechada/
ou manchada de sangue/
e de tédio de domingo cinzento.

Digo que as vestes do profeta estão rasgadas/
quando ele transita pelas ruas de um nunca vi/
cuspindo fogo e ardendo em febre/
antes da invasão de todo e qualquer exército sanguinário.

2

Vendi minha alma/
antes do começo dos tempos/
em minha iniciação/
desconheci as origens.

Bebi vinho/
e vivi como um monstro num labirinto/
devorando moças e rapazes/
em minha sede de carne fresca e leitosa.

Vendi minha alma/
e apodreci lentamente em segunda conjugação/
e fui descendo as escadas do desvario/
como quem mastiga a imensidão de sua dor.

3 Ontem acordei ninguém/
Indefinido em olhos que embaçam a manhã/
Ontem e tão somente ontem/
Não mereci a atenção dos roedores.

Ontem acordei ninguém/
insano e incontrolável na palavra suicídio/
em gotas de orvalho a molhar a face marcada/
por séculos de traição e sevícia.