quinta-feira, 11 de junho de 2009

1 Sem quase nada/
faço o que tem que ser feito/
sem virtude, quase sem desejo/
crivado de dores neste onde quer que seja.

Fumo ou bebo/
ou não bebo nada e não fumo/
e subo e desço escadas/
como se fosse abrir uma cova na palavra cemitério.


2
Digo que as coisas em mim não prestam/
digo que o vento é podre/
digo que a hora não tem vergonha na cara/
e que os homens não deveriam ter rosto.

Digo que meu nome é este ou aquele ou qualquer outro/
e que minha voragem é comer de olhos fechados/
saboreando este nada que me assola/
com os dois pés no peito e mais o tal nó na garganta.

3
Seco e sem vida/
nada procuro/
alguém em mim morreu/
antes do assassinato daquele imperador.

Ando com as mãos no bolso/
e acho que deixei de ser o que era/
e assim dobro esquinas e mais esquinas/
com a alma enlameada e hálito suspeito.

4
O som antes do antes/
antes de tudo/ antes do antes/
antes dos nomes/ antes das coisas/
os uivos/
e gritos/
e gemidos/
e grunhidos/
em qualquer espírito atormentado.

O som antes do mundo/
antes do antes do mundo/
antes de tudo/antes dos nomes/
antes das coisas os gritos/
os gemidos e grunhidos/
embaçado o antes do antes/
das trevas/ do mundo/ do antes.

terça-feira, 2 de junho de 2009

POEMAS SEM NADA

  1 duas mãos e um copo/
entrelaçados e sem vida/
e quase tudo silêncio/
de quem morre sem alarde.

   duas mãos quase sem nada/
tateando o adjetivo escuro/
para reencontrar o que não é dito/
pela chuva que espanca as vidraças.

2 devo estar louco/
ou creio que devo estar assim/
sem medidas e abandonado/
     como qualquer lua sem rumo.

devo estar branco ou incolor/
ou com a alma em frangalhos/
por isso estes passos vagarosos e sem sede/
em direção a lugar algum.


3   Um crescendo no peito/
rasga a hora como um pedaço de nada/
engolido por qualquer fantasma indiferente/
no interior de uma casa sombria.

O cheiro de mofo/
invade minhas narinas de sempre/
e assim respiro a vertigem do tempo/
amordaçado neste dia mundano.