sábado, 2 de maio de 2015

POEMAS DESTITUÍDOS DE SI MESMOS.

1 Pisar em coisas vivas é saudável.
Pisar no substantivo laranja, no substantivo formiga ou no substantivo mais do que concreto barata.

Pisar em nomes vivos é saudável.
Pisar no substantivo lata, pisar no substantivo chão,pisar no substantivo areia.

Escutar o não dito nos aproxima do fim e é por isso igualmente saudável.


Costumo ir de encontro ao vento quando nada tenho em mim.
Costumo andar em gerúndio no verbo andar sem maiores comprometimentos com qualquer conjugação.
Andar infinitivo em ar e para além do eu ando ou eu estou andando.
Andar simplesmente andar adverbiado por aí.


2 Dois mortos/
numa rua escura/
e o silêncio/
de quem nada viu.

Basta fechar os olhos/
para reencontrar as origens/
na respiração compassada
antes do substantivo abstrato ser.

Dois mortos
sem nome algum
na rua escura/
a recobrar os sentidos/
em qualquer mente proscrita.

Dois mortos/
numa rua escura/
em ninguém viu/
no abandono dos nomes.


3 Um homem diz o que diz/
longe de si mesmo e das palavras/
ele acorda e caminha na direção contrária/
sem destino em qualquer que seja o lugar.

Ele está de malas prontas/
como se o substantivo jornada pudesse tomar sua mente de vez/
quando ele diz o que diz, longe das palavras e de si mesmo/
em algum lugar próximo à palavra escuridão.