domingo, 14 de abril de 2013

POEMÁRIO DAS CAUSAS INÚTEIS


1
um poema e mais um tanto/
de qualquer coisa qualquer/
aberta ou fechada em lata/
encontrada na palavra lixo.

o lixo e o poema/
em versos no correr da noite/
há mais frio nas entranhas apodrecidas/
há mais morte em ninguém circula por aqui.

2 Minha mãe me criou/
e sabia que eu não daria para nada/
e sabia que este nada/
estaria sempre em mim como um saco de plástico vazio.

Minha mãe sabia/
que eu não teria serventia alguma/
e disse que não poderia comparecer ao meu enterro/
pelo fato de ter que fazer as unhas.

Minha mãe em meus pesadelos noturnos/
eu que arrancava aquelas unhas terríveis/
em comeu e não gostou em pretérito perfeito/
em cheiro de naftalina no substantivo armário.


RIMAS APODRECIDAS E CIRCENCES

3 pedaço de nada/
nesta rima apodrecida/
pedaço de nada na madrugada/
que não come marmelada/
nunca prestou a desgraçada/
torpe e açucarada/
vencida pelo substantivo noite.

olhos fundos e falsos/
quando subiu ao cadafalso/
e respirou tranquilamente/
antes de morrer no chão quente/
dos becos secos da rua em questão/
sem sangue nas veias/gelado o coração/
rimando com o vento em todo tormento/
correndo do tempo em alazão.